Meu pai
Meu pai sempre foi um cara muito correto. Tive uma
educação dura, porém irrepreensível... Entendi isso quando tive a idade que meu
pai tinha quando eu era criança.
Meu pai era operário, serralheiro de profissão. E, dos
bons.
Trabalhou mais 20 anos numa mesma empresa e, se
aposentou nela com direito a festa e a presença de todos os funcionários,
diretores, placa comemorativa, presentes, etc.
A empresa como um todo gostava muito dele, e acima de
tudo, tinham muito respeito por um cara, que por 20 anos dedicou como poucos,
cada gota do seu suor, para a empresa que, segundo ele próprio, lhe dava a
oportunidade e garantia de manter a nossa família.
Consegue imaginar isso hoje?
Sr. Domingos, meu pai, tinha um jeito peculiar de nos
manter sob seu controle:
Uma ripa de madeira fininha que ele guardava entre a
armação de madeira do telhado de um barracão, que ainda existe no quintal da
casa de minha mãe.
Bom, essa ripinha de madeira era o terror de nossas
artes...
Ele nos ameaçava com ela toda vez que extrapolávamos, ou
seja, sempre...
Foram incontáveis vezes que ele correu atrás de nós com
ela em punho. E, outras incontáveis vezes que ele nunca nos pegou...
Hoje, pra mim, é claro que ele sempre correu atrás de
nós com a intenção de não nos pegar e, sabedor disso hoje, o abraço muitas
vezes antes de dormir por não ter sido necessário usar da força para nos
educar. Usou de terrorismo, sim, mas nunca usou a ripinha. E olha que não
faltaram motivos.
A maioria das vezes que ele nos aterrorizava (rsrs...) era por não
obedecermos as inúmeras vezes que ele nos chamava para parar de brincar na rua
e entrar em casa, tomar banho, e jantar...
Sempre jantávamos juntos.
Em uma delas, depois dos três assovios, que era o
código, (se não entrássemos até o segundo, no terceiro a coisa fervia), ele se
colocou no portão de casa com a, já famosa ripinha em mãos. Quando o vi e ouvi
fui correndo para casa esperando um vacilo(?) dele para “furar” o bloqueio e me
livrar da ripinha...
Assim foi feito.
Em seguida ele começou a correr atrás de mim.
Corri para o quarto e me escondi debaixo da penteadeira
que ficava bem ao lado da porta. Quando ele entrou, sai correndo pela porta
dando muita risada do drible que acabara de dar nele... (eu ainda me divertia
na eminência de uma surra).
Depois corri para a casa da minha avó nos fundos do
quintal e me tranquei no banheiro dela até meu pai se “acalmar” e, claro, sob a
proteção de minha santa vózinha.
Um tempinho depois, fiz aquela cara de gato de botas do
filme “Shrek”, sentei-me a mesa para jantar...
No fundo, meu pai devia se divertir com essas
peripécias...
Por que escrevo isso sobre ele?
Saudades... Muitas saudades dele.
(Evaldo Mazer)
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