Olá pessoa linda!
Iniciando a leitura
de um livro hoje, deparei com uma história bem relevante, que resolvi resumir e
compartilhar com vocês. Ficou longa mesmo resumida, mas vale a pena.
No final do século XIX,
em uma pequena cidade do interior da Itália de nome Roseto, onde o trabalho era
basicamente exercido nas pedreiras de mármore, chega uma notícia sobre oportunidades
em outro continente do outro lado do oceano.
No início de 1882, um
grupo de 11 moradores desta cidade imigra para Nova Iorque e se aventuram para
o oeste até encontrarem trabalho numa pedreira de ardósia na Pensilvânia. No
ano seguinte mais 15 pessoas de Roseto também imigram para a América e muitos
deles se juntam aos que lá já estavam. Esses novos imigrantes enviam notícias a
Roseto sobre as oportunidades. Por volta de 1894 mais de 1000 imigrantes já na
Pensilvânia começam a comprar terrenos e construir suas casas, erguem uma
igreja e batizam a sua nova cidade de Roseto, como na Itália.
Em 1986, um jovem
sacerdote assumiu a igreja e, entre outras coisas, organizou festas e incentivou
o povo a cultivar diversos tipos de plantações dando vida à cidade. Foram construídos
escolas, parques, convento, etc. Um pequeno comércio começou a se formar na
avenida principal e surgiram mais de 12 fábricas de blusas que abasteciam o
comércio de roupas.
As cidades ao redor
de Roseto eram formadas basicamente por imigrantes ingleses e alemães e como estes
países na época não tinham uma boa relação entre si, Roseto abrigava
exclusivamente a sua própria população, assumindo inclusive o seu dialeto
falado na Roseto europeia. Então a Roseto americana criou o seu próprio mundo
minúsculo e autossuficiente, praticamente desconhecida, e poderia continuar
desconhecida se não fosse por uma pessoa: Stewart Wolf.
Dr. Stewart Wolf era
médico especialista em estômago e digestão e lecionava na Faculdade de Medicina
da Universidade de Oklahoma. Ele passava seus verões na Pensilvânia numa
fazenda próxima de Roseto e, conta ele, que no final da década de 1950 ele
estava por lá e foi convidado a dar uma palestra na sociedade médica local.
Após a apresentação, conversando com um dos médicos presentes, este lhe falou:
“Pratico medicina há
17 anos. Recebo pacientes de toda a região, mas raramente recebo alguém de
Roseto com menos de 65 anos que tenha doença cardíaca.”
Houve surpresa, pois
naquela época nos Estados Unidos, antes dos remédios específicos serem
descobertos, o infarto era a principal causa de morte entre homens com menos de
65 anos.
Dr. Wolf resolveu
investigar. Com a ajuda de alunos e colegas da Universidade de Oklahoma, analisaram
atestados de óbito, analisaram registros médicos, leram históricos e traçaram a
genealogias das famílias. Convidaram a população inteira da cidade para exames
de sangue e eletrocardiogramas.
Os resultados
surpreenderam, pois em Roseto quase ninguém com menos de 55 anos tinha morrido
de problemas cardíacos e nem mostravam sintomas de problemas no coração. Para
os que tinham mais de 65 anos a taxa de mortalidade era por volta da metade
apresentada nos Estados Unidos. E não era só isso, a taxa de mortalidade por
todas as doenças também era menor, por volta de 30 a 35% do valor estimado.
Dr. Wolf então
convidou um amigo, Dr. John Bruhn, sociólogo e eles convidaram estudantes de
medicina e de sociologia para entrevistarem a população de Roseto. Foram de casa
em casa e conversaram com todos com mais de 21 anos. Descobriram que não havia suicídios,
alcoolismo e nem vícios em drogas. O número de crimes era mínimo. Ninguém
dependia da previdência social.
Resolveram procurar
casos de úlcera, também não havia. As pessoas em Roseto, na sua grande maioria,
morriam de velhice.
Várias hipóteses
foram levantadas:
1 - Os habitantes de
Roseto traziam práticas alimentares da Itália que os faziam mais saudáveis que
os americanos. Hipótese descartada ao perceberem que aquelas pessoas cozinhavam
com banha de corpo. Combinavam massas com salsicha, salame, presunto, etc.
Comiam doces todos os dias. E não tinham o hábito de praticarem exercícios.
Dr. Wolf pediu que
nutricionistas analisassem os seus hábitos alimentares e constatou-se que 41%
das calorias (percentual enorme) eram provenientes de gorduras. Muitos eram
fumantes crônicos e tantos outros eram obesos.
2 - Se não era a
dieta e nem os exercícios físicos, talvez estivesse na genética? Também não
era.
3 – Talvez a região
onde estivesse situada Roseto lhes trazia algum benefício. Ele então verificou
outras duas cidades perto de Roseto, ambas com mais ou menos o mesmo tamanho e
com a característica de serem também habitadas por trabalhadores imigrantes
europeus. Analisou os registros médicos das duas cidades e constatou que a taxa
de mortalidade para os homens acima de 65 anos eram por volta de três vezes
maior que a de Roseto.
Dr. Wolf começou a
desconfiar que o segredo estivesse na própria cidade de Roseto.
Ao caminhar pela cidade
e conversarem com os seus moradores, Dr. Wolf e Dr. Bruhn foram descobrindo o
segredo.
Eles observaram como
as pessoas interagiam, paravam para conversar em italiano na rua, cozinhavam
umas para as outras nos quintais. Os clãs familiares se mantinham sob a estrutura
social do lugar. Eles viam casas com três gerações morando juntas e o respeito
dedicado aos avós. Foram à igreja, assistiram a missa e verificaram o efeito
unificador e calmante daquele ambiente. Contaram 22 organizações cívicas numa
cidade de pouco menos de 2 mil habitantes. Havia um espírito igualitário e
particular da comunidade que desestimulava os ricos a ostentar o sucesso e
ajudava os malsucedidos a encobrir seus fracassos.
Aos trazerem a
cultura dos camponeses do sul da Itália para Roseto, criaram uma estrutura
social protetora capaz de isolá-la das pressões do mundo moderno.
Conta Dr. Bruhn:
“Ainda me lembro de
quando fui a Roseto pela primeira vez, via três gerações fazendo as refeições
juntas, reunidas em família, vias muitas padarias com pessoas subindo e
descendo as ruas, sentando-se nas varandas para conversarem umas com as outras...
Aquilo era mágico.”
Ao apresentarem esse
resultado à comunidade médica, estes foram céticos e os resultados contestados.
Colegas exibiam longas relações de dados dispostos em gráficos complexos para
justificarem suas conclusões.
Mas, Dr. Wolf e Dr.
Bruhn, estavam falando de outros resultados, eles falavam dos benefícios mágicos
e misteriosos de parar para conversar com as pessoas nas ruas e dos efeitos
positivos familiares de três gerações viverem sob o mesmo teto. Na época, o
pensamento convencional para uma vida longa dependia em grande parte de nossos
genes, da nossa alimentação, da prática de exercícios físicos e da eficácia do
sistema médico. Não havia o costume de associar saúde à relação com a
comunidade.
(Livro: Fora de série –
Outliers – Malcoln Gladwell – Editora Sextante)
Achei bem pertinente
essa história, mas ainda me sinto com a vontade de perguntar:
E hoje? Será que
fazemos essa associação?
Na minha modesta
opinião, estamos diante de um grande dilema ao direcionarmos a nossa vida para a
correria da sociedade moderna, para os fast-foods, para fora do âmbito
familiar, para longe do contatos com as pessoas mais próximas, para a busca do
sucesso em tudo e, muitas vezes, a qualquer preço, mas ao mesmo tempo, buscando
sermos saudáveis procurando a alimentação mais correta possível, buscando as
esteiras das academias, fazendo exames e mais exames, etc. Não estou dizendo
que tudo isso não seja importante, porém devemos também nos lembrar de agregar
a tudo isso, talvez o que nos seja o mais importante, o que nos nutre não só o
corpo, mas nos nutre principalmente a alma, que são as relações humanas, o
contato com aqueles que amamos, as conversas ao redor da mesa de jantar, as
conversas e risadas jogadas fora num encontro social, a visita aos avós ou aos
mais idosos que nos proporciona o carinho afetuoso e o contato com a sua experiência
de vida, o compartilhar sentimentos, o toque, o abraço, o olho no olho, o “dar
e receber um colo”, enfim, uma quantidade imensa de tudo aquilo que só a inter-relação
pessoal pode nos proporcionar.
Ah! E tem mais, tudo
isso ainda ajuda a aumentar a nossa saúde e a nossa expectativa de vida.
Convido-te a
refletir sobre esse dilema...
(Evaldo Mazer)