terça-feira, 24 de março de 2020

Sobre o medo








Vamos falar sobre o MEDO? (Aí que  medo! rsrs...).
Sempre gosto de abordar esse tema, pois sempre me lembro (e isso me ajuda a não perder o foco) das tantas vezes em que o medo me paralisou, me fez empalidecer, suar em demasia pela testa e mãos, secar a boca, disparar o coração, tornar minha respiração mais ofegante, gaguejar e até bambear minhas pernas.
Quem me conhece, alunos, clientes, amigos sabem bem como isso funciona em mim...
O mais engraçado, é que escrever sobre isso está me causando algumas dessas reações... Rsrs... E, me vem a pergunta: 
Por que isso acontece?
Existe muitas razões para se sentir medo, e o medo, ao contrário do que pode se pensar é um mecanismo salutar que tem como objetivo a auto preservação. 
Toda vez que nosso corpo se vê em perigo, se sente ameaçado esse mecanismo chamado medo aparece. 
Diante deste fato, não podemos dizer que o medo é ruim. O que o torna bom ou ruim é a intensidade com que ele se manifesta.
Vou me colocar como exemplo: 
Posso estar pela primeira vez diante de uma nova turma de alunos. 
Esse primeiro contato ainda me causa medo, ou seja, as reações acima citadas. Bem menos hoje, mas ainda me causa medo. E olha que dar aulas é uma das coisas que mais gosto de fazer e que me deixam muito realizado. Mas, a possibilidade de não atender as expectativas, de não ser bom o suficiente, de errar e me sentir mal diante da turma me amedronta. Compreensível, as pessoas estão esperando o meu melhor e eu sei que elas estão esperando o meu melhor, e eu posso não atender essa expectativa. 
Esse é o grande perigo: 
Não atender as expectativas. 
Então, o que fazer? Não dar o curso? 
Mas, eu quero dar o curso. Eu tenho muita vontade de dar aulas.
O medo salutar se apresenta para tornar a ação a ser executada o mais segura possível. Me impede de realizá-la de forma inconsequente. Mas, também não me impede de executá-la se esse for o meu desejo.
Usando o meu exemplo, o medo fará com que eu analise a situação e me faça tomar algumas precauções que possibilitem sentir-me mais seguro para realizar o desejado. 
Por exemplo: 
Vou verificar se estou bem, se estou descansado e se me sinto preparado para a aula. Além disso, irei me certificar que o material a ser utilizado está a contento, que os equipamentos que irei utilizar estão funcionando, que o local onde se realizará a aula está me oferecendo o que necessito e, que há um plano B para eventuais imprevistos. Esse medo, que eu chamo de "medo salutar" irá fazer eu tomar atitudes que minimizem as possibilidades de erro e farão sentir-me mais seguro.
Tenho analisado, pesquisado bastante a respeito desse medo e de sua relação com a auto- estima, e que várias vezes nos impede de fazer algo por não se achar bom o suficiente.
O contato frequente com pessoas através das minhas atividades terapêuticas e a própria análise de minha vida e de meus medos me levaram a algumas razões sobre a origem da baixa auto estima e do medo, principalmente, de se expor.
Nossa cultura não favorece o erro. 
Errar é muito ruim na visão das pessoas que nos orientaram em nossa primeira formação. Não por conta deles, pois os mesmos repetiram informações recebidas. Mas, o fato é que culturalmente, não aprendemos a lidar bem com o erro.
Quando crianças toda vez que fazíamos algo considerado errado éramos punidos das mais variadas formas, desde uma repreensão verbal severa, na frente ou não de outros, até um castigo que poderia ser ficar fechado no quarto escuro, ou ainda pior: uma bela de uma surra.
Desta forma, crescemos procurando errar o menos possível. 
Porém, o medo de errar, de ser exposto às humilhações já descritas, nos estimulavam a fazer cada vez menos, ou seja, quanto menos fizer, menos chance de errar, menos risco de ser punido, menos chance de se sentir humilhado.
Ora, fica claro por que crescemos com medo de investir, de empreender, de arriscar e, de se expor. 
Ao aparecer uma nova chance, uma nova oportunidade, o que nos vem, de forma consciente ou inconsciente, à nossa mente? A possibilidade de não dar certo, de errar. 
O medo da exposição vem vinculado ao "se você errar você vai ser humilhado".
Concluí, segundo o meu ponto de vista e, que isso fique bem claro, que o medo de se expor, de passar vexame, de se sentir humilhado, vem das poucas chances que tivemos de errar e de aprender com os erros, de aprender como fazer certo, de tentar e tentar fazer certo por quantas vezes fossem necessárias, mas o medo de ser punido caso o erro acontecesse nos impediu de tentar. E o erro passou de aliado a vilão. Sim, porque o erro é um mecanismo de crescimento e desta forma deveria ser enxergado. 
Fico pensando porque Santos Dumont, o pai da aviação, batizou o modelo que voou de "14 bis". 
Acredito que deva ser porque as outras 14 vezes que ele tentou ele não deva ter conseguido fazê-lo funcionar, e o modelo que funcionou foi o modelo 14 que ele bisou. Quatorze tentativas devem ter falhado. Mas, pelo visto, ele não deve ter se preocupado com os erros. Concorda que a cada erro o projeto é revisto e teoricamente melhorado até que funcione? 
E nós, se não testarmos nossos limites sempre, quando vamos ser melhor? 
Se não corrermos os riscos de errar quando seremos melhor? 
E veja que interessante, nossa auto estima aumenta toda vez que fazemos algo e esse algo dá certo. Ficamos cada vez mais seguros na medida que vamos percebendo que nossos limites são infinitos. 
Mas, agora vem o contra-ponto: 
Para descobrir nossos limites, temos que nos dispor a correr o risco de errar, e usar esse erro como alavanca.
O medo deve fazer-me sentir seguro, mas em hipótese alguma me limitar. É meu dever minimizar todas as chances de erro mas, é imprescindível para meu crescimento, tentar e tentar e tentar...
Já dizia o poeta: 
Tente outra vez!
(Evaldo Mazer)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Planejar e realizar

Olá pessoa linda! É muito comum termos ideias, sonhos e nos planejarmos para realizá-los,   e também é muito comum que tudo fique no plano d...